O livro a revolução dos bichos não esconde ser uma sátira sobre o
totalitarismo, em específico sobre A Revolução Russa, de 1917. Deixando claro em sua
sinopse que há referências ao período. Mas o que foi A Revolução Russa, e quais
as alusões que o livro faz sobre o assunto?
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No século XIX, a falta de liberdade na Rússia era notória. Havia uma
grande demanda de terras concentradas nas mãos da nobreza e os trabalhadores
apenas na extrema miséria. O ‘czar’ Nicolau II governava de forma absolutista,
reprimindo oposições. Em uma dessas repressões, um grupo, de sua maioria
operário, estava as ruas realizando uma manifestação pacífica e a medida que
iam se aproximando do Palácio de Inverno, casa do ‘czar’, as tropas russas
abriram fogo e mataram inúmeras pessoas.
Essa violência abalou a sociedade
russa e gerou uma onda de protestos em todo o país e alguns anos depois o
‘czar’ foi abdicado. No dia 7 de novembro (25 de outubro no calendário
gregoriano), operários e camponeses, sob liderança de Lenin e Trotsky, tomaram
o poder, orientados pela doutrina comunista (desenvolvida por Karl Marx). No
livro, os porcos implantaram assim o Animalismo.
Em referência ao livro, logo no início, vemos Major, um velho porco que pode ser uma alegoria a Karl
Marx e Vladimir Lenin, fundamentando a estratégia revolucionária e expondo uma nova perspectiva sobre a
realidade que vê:
Os animais, representando o proletariado,
trabalha na miséria, feito escravos e sem condições de vida decente, além de
não receber devidamente do que produzem. Eles não são livres, enquanto o homem,
caracterizando a nobreza, principalmente o ‘czar’ Nicolau II, é o único que
consome de tudo e não produz nada.
Após a morte de Lenin, iniciou-se uma luta pelo poder entre Stalin e
Trotsky, além de uma grande divergente de fundamentos políticos. Trotsky tinha
o ideal de "’Revolução Permanente’’, onde a revolução russa deveria ser levada
aos países que o capitalismo estava em crise, pois para o regime durar, era
necessário vitórias socialistas em outros lugares e não apenas na URSS.
Acreditava que o estado estava longe de ser exemplo de socialismo. O ideal de
Stalin era "Socialismo em um só país’’, onde a revolução deveria se consolidar
internamente na URSS, pelo desenvolvimento de indústria pesada, construindo uma sociedade socialista,
sozinhos. Considerava a Rússia a "’mãe do socialismo real’’.
No livro Stalin e Trotsky, são respectivamente os porcos Napoleão e Bola
de Neve. Sendo mostrado também suas discordâncias diárias. Em um dado momento
Napoleão pensava que os animais deveriam arranjar armas de fogo e aprender a
usá-las, porque se eles não fossem capazes de se defenderem só lhes restariam a
submissão. Já Bola de Neve acreditava que o melhor seria provocar uma rebelião
nas demais granjas, visto que "fomentando revoluções em toda parte, não teriam
necessidade de defender-se.”
Napoleão, uma figura de ditador, por meios persuasivos e violentos se
mantém no poder, expulsa Bola de Neve e persegue e mata opositores, assim como
Stalin.
Para convencer os demais que tudo corresponde com o planejado e que
Napoleão é o herói, temos Garganta, um porco, que age como a mídia, a
propaganda. Convence, e distorce os acontecimentos. Com dizeres que antes era
muito pior e agora tudo está bom, Napoleão é o herói de todos, e eles não
deveriam se preocupar com os aparentes benefícios que os porcos (governantes)
tinham, pois, na verdade, era um favor a eles, ficar administrando tudo e
todos. No final o que Garganta pronunciava
conseguia tornar a única verdade.
Como mencionado, dos porcos surgiram os governantes, os encarregados de
administrar, a classe que possuiu privilégios únicos: morar na casa do Sr.
Jones, receber a maior parcela de alimentos e trabalhar quase nada.
Temporalmente, as leis impostas por Bola de Neve foram todas modicadas por Napoleão. Beber e
matar outros animais que antes eram proibidos, foram permitidos, com a
justificativa que apenas não deveria ser em excesso e sem motivos
(respectivamente). Assim como na ditadura russa, que se dizia ser um sistema
igualitário, privilégios que não deveriam ter, existiam para os líderes.
O livro termina com uma reunião, um jantar, entre Napoleão, os demais
porcos, e os donos de outras granjas, humanos. O que tanto disse que deveria
ser evitado, afastado e até exterminado,
agora se reunia para acordos, planos e trapaças. Pode-se fazer uma
alusão a 1943 quando se realizou a
conferência de Teerã, a primeira reunião de Stalin com os líderes dos EUA e da
Inglaterra, Roosevelt e Churchill.
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