Quais foram as motivações que levaram ao nascimento de uma das obras acadêmicas mais aclamadas?
Se você cursou Administração, Relações Internacionais ou é simplesmente interessado em literaturas consagradas, com certeza já se deparou com o nome de Sun Tzu e sua magna obra: A Arte da Guerra.
Contudo, apesar da imortalização do General em ambos hemisférios do globo, no Ocidente pouco se conhece realmente além dos 13 capítulos com ensinamentos de como se ganhar uma guerra. Nesse guia, você irá compreender um pouco mais sobre o nebuloso plano de fundo desse trunfo da estratégia clássica e contemporânea.
Retrato de Sun Tzu - Autor Desconhecido
O General, o Estrategista.
Durante o período de 544 a.C., nos domínios da atual China havia um período de instabilidade muito forte. Ocorria o período que ficou historicamente conhecido como "Primavera e Outono", isto é: o poder real e centralizador não existia levando a guerra de principados e reinados jogando a região numa histeria.
Nesse cenário de colapso, Sun Tzu nasceu filho de uma família aristocrata militar e neto de um entusiasta bélico que investiu em passar esse conhecimento estratégico para o neto em seus tenros anos.
Em 517 a.C., Sun Tzu partiu para o Estado de Wu, onde ficou a serviço do rei Hu Lu. O homem captou a atenção de seus companheiros facilmente, uma vez que era dotado de habilidades e eloquência. Em suas estratégias, se recusava a usar formas duras e pragmáticas, mas pensava o mais dinâmico e imprevisível o possível. Aderia elementos como clima e geografia em suas estratégias ( o que naquela época não eram considerados num conflito armado de forma alguma ) que somaram-se num notório histórico de vitórias e experiências para si.
Devido a essa vida tão cheia e sabedoria acumulada, Sun Tzu teve a ideia de compilar essas lições que obteve em sua carreia militar no que originalmente foram 13 capítulos. De forma simples e direta, como um resumo de sua experiência, a Arte da Guerra foi escrita e recebida como a Bíblia da estratégia oriental, hoje estando ao lado de obras de O Príncipe de Nicolau Maquiavel em importância e respeito.
Apesar de uma vida tão impressionante e chamativa, nada se sabe sobre como e onde Sun Tzu morreu. Alguns estudiosos afirmam que sua partida tenha sido em 496 a.C., todavia fora isso não há mais nada. Nem teorias da conspiração.
A Era da Filosofia Chinesa: O Período das Primaveras e Outono
Se você acha que o conceito de ganhar uma batalha por meio de palavras veio após a invenção do RAP, você está completamente enganado. Durante esse período da Dinastia Chou, as habilidades intelectuais de um homem eram tão importantes quando sua habilidade de brandir uma espada. Para os chineses desse período, um homem forte que não sabia filosofar era apenas um homem fraco. Seria impossível Sun Tzu ter sido tão afamado se não tivesse um domínio tão afiado de poesia chinesa ( denominada "shi" após a Dinastia Han ).
Apesar de parecer um pouco complicado para nós ocidentais assemelhar a figura de um general no campo de batalha com um sábio que escrevia poemas, muito disso influência de culturas greco-romanas com suas alegorias como Ares e Atena ( uma guerra física que não pensa e uma guerra estratégica que não luta ), isso é um paradigma a ser quebrado quando se olha para o contexto asiático. Era sim possível conseguir resolver problemas de Estado com uma conversa civilizada ( da mesma forma que podia-se adquiri-los na mesma facilidade ).
O Período das Primaveras e Outono remete-se exatamente ao período de 770 a.C a 476 a.C ( ou 403 a.C. para algumas fontes ) e foi marcado pelo conflito que quase levou a quase anarquia geral da região que decorreu após uma erosão do poder conforme cada vez mais duques e marqueses vinham ascendendo. Todavia, o período que estava mais para "uma guerra morna" mas com chances de ser pacificado é encerrado quando o Estado de Jin, um dos reinos mais notórios desse cenário, cai.
A queda do Estado de Jin, não somente encerra o período da Primavera e Outono, mas o período do brilhantismo filosófico chinês, iniciando o que seria um capítulo decisivo para a China: o Período dos Estados Combatentes, onde o destaque não seria a eloquência mas a crueldade que um líder poderia chegar ( mas esse capítulo é história para outro Guia e outro protagonista ).
Reprodução do mapa da região durante o Período da Primavera e Outono
Essa mesma região comparada ao tamanho da China Contemporânea
A baixa popularidade?
"Epa, epa, epa! Como assim Sun Tzu era impopular?", é o que você, caro leitor, deve estar pensando agora depois de ler um guia particularmente extenso. Mas tenha calma, Sun Tzu tinha sua bolha de popularidade, não se preocupe com isso. Todavia, apesar disso, o general também foi um dos que foram apagados pela notoriedade de Confúcio, principal filosofo da Primaveras e Outono ( que inclusive recebeu esse nome em homenagem ao seu trabalho "Anais da Primavera e Outono", uma ótima sequência para quem tenha finalizado a leitura de A Arte da Guerra ou simplesmente tenha mais interesse no conteúdo ). Não somente Sun Tzu foi sufocado pela presença e influência esmagadora do filósofo de parábolas mas outros nomes como Lao-Tzu, precursor do Taoísmo, que inclusive trás a narrativa de um dos encontros com Confúcio em seu livro Tao Te Ching, "Caminho da Virtude" em português ( que pode ser considerado a recomendação para quando você terminar de ler a primeira recomendação ), e podemos notar as farpas comunais que só os homens letrados soltam em suas pequenas brigas pomposas.
Pode-se dizer que Sun Tzu foi um homem do seu tempo, tal como os renascentistas estavam para o Renascimento e os iluministas estavam para o Iluminismo, Sun Tzu, o militar, juntamente de Confúcio, o didático, e Lao-Tzu, o religioso, estavam para seu movimento de flores delicadas e folhas secas que precederam um inverno traumático e finalmente um glorioso e imponente verão que veio a seguir.
Tao Te Ching - Lao Tzu by Laércio B. Fonseca
Os Anais de Primavera e Outono - Confúcio by Autor Desconhecido
A Arte da Guerra - Sun Tzu by Amazon
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